segunda-feira, junho 29, 2009

Festival Folclórico de Parintins - Final do Duelo...

Foto: Bruno Miranda / Na Lata

Depois de três noites de apresentações que duraram aproximadamente 15 horas ao vivo, sem contar o ritual de preparação dos brincantes, o boi bumbá Garantido foi sagrado campeão do 44ª Festival Folclórico de Parintins. Com a vitória deste ano, o boi vermelho conquistou com o tema Emoção o seu 27ª título.

Segundo os jurados que avaliaram os dois bumbás, o Garantido teve o melhor desempenho nas três noites. Obtendo 418,2 pontos na primeira noite, 417,9 pontos na segunda e 419,6 pontos na apresentação de ontem.

O Caprichoso que buscava o tricampeonato obteve um total de 1250.9 pontos contra 1255.7 pontos do contrário, o que acabou com as esperanças da Raça Azul de ser novamente a agremiação folclórica vitoriosa do festival.

Vale lembrar que na primeira noite os dois bois tiveram "problemas" em suas exibições. O pajé do Caprichoso Waldir Santana fraturou um dos pés, o que tirou o brilho de sua apresentação aos jurados e uma das alegorias do Garantido não teve um bom desempenho. Na segunda e terceira noite, as agremiações se superaram e o resultado foi bem equilibrado.




Garantido 2009 - Toada: Sou Garantido

oooOOOooo oooOOOooo oooOOOooo oooOOOooo

Esse foi o segundo festival que acompanhei e confesso que no ano passado a diferença entre os bumbás foi mais gritante -- O Caprichoso realmente mereceu a vitória.

Na minha opinião: Em 2009, dava até pra sair um empate entre os dois bois, pois a diferença foi pouca. Parece ser uma tarefa complicada julgar dois grupos que são completamente diferentes, pois um é tradicional e rústico e outro mais perfeccionista e high tech. Mas os jurados estão atentos a essas diferenças e o que parece valer na verdade é a essência e não apenas o formato em si.

Ano que vem tem mais...

Play:


Imagens das apresentações...


História dos pajés dos bumbás...

TV Aberta - Festival Folclórico de Parintins - Terceira Noite...








Fotos da Segunda Noite: Bruno Miranda / Na Lata

A última noite do Festival Folclórico de Parintins foi uma grande brincadeira de boi. Na sexta-feira os bumbas fizeram uma prévia do que seriam as apresentações da noite de sábado e ontem todos os brincantes se divertiram e curtiram o Garantido e o Caprichoso.

O boi vermelho começou sua apresentação fazendo duas homenagens importantes dentro do contexto cultural e histórico da Amazônia –- os soldados da borracha foram relembrados por meio da figura do seringueiro Chico Mendes e a miscigenação entre o índio, o branco e o negro foi ludicamente inserida aos pilares de sustentação do Teatro Amazonas –- uma das construções mais conhecidas do estado.

A lenda Amazônica narrada foi a história dos índios Karajás – O Povo das Águas e dentro desse contexto foi revelada a rainha do folclore que surgiu da boca da serpente Koboí – a rainha das águas. Segundo a mitologia, os karajás viviam entre a terra e a água, mas num certo momento a serpente bloqueou o caminho que fazia a ligação entre os mundos e eles tiveram que se espalhar pelas margens do rio Araguaia.

O traje da rainha do folclore trazia uma cabeça de cobra com olhos de led´s azuis, ao descer da alegoria, a máscara foi ligada a um cabo que ao ser levantado fez esticar o pescoço da brincante que se transformou novamente na serpente Koboí.

Para encerrar sua apresentação o boi do povão trouxe pra arena o ritual dos Gladiadores da Mundurukânia – os índios cortadores de cabeça. A alegoria era decorada por cabeças empaladas que complementavam o clima dramático e sombrio da narrativa.

Os guerreiros Munduruku estavam em guerra e para apaziguar os índios o pajé é evocado. Em noite apoteótica, o artista André Nascimento (pajé) surgiu voando de fora do bumbódromo a cerca de 50 metros de altura. Ao descer sobre a alegoria, ele desaparece para surgir novamente no chão incorporando uma formiga de fogo – Perfeito.

oooOOOooo oooOOOooo oooOOOooo

O Caprichoso foi buscar nos artistas renascentistas da Itália, a inspiração para homenagear a figura típica regional da noite, que foi o artesão parintinense.

No centro da arena duas esculturas brancas remetiam a pintura de Michelangelo existente no teto da capela Cistina (Roma). O encontro do homem com Deus cedeu espaço a um ateliê, no qual os sonhos dos artistas do Caprichoso se tornam realidade.

A alegoria cheia de referências e homenagens a história do bumba revelou também a sinhazinha da fazenda, a porta-estandarte e o boi Caprichoso que foi guiado por uma escultura da mãe natureza.

As tribos indígenas deram um show e abriram caminho para a fera do Aningal –- Tapiraiauara -- (ente protetor dos peixes e animais que vivem nos lamaçais). A interpretação do ser ficou por conta da cunhã-poranga que surgiu de costas para o público e depois ao descer da alegoria se transformou na mais bela índia da tribo.

O ritual da Aldeia Subterrânea começou com a coreografia de um grupo de guerreiros que abriram espaço para a escultura de uma formiga gigante. Do ser surgiu a rainha do folclore vestida de formiga marrom, que se transformou em arara-azul.

A dúvida da noite era se o artista Waldir Santana incorporaria mais uma vez o pajé. O que de fato não se repetiu, pois a interpretação do xamã Dsopinejé Kulina foi realizada pelo substituto Fabiano Alencar.

Segundo a lenda dos índios Kulina, quando a fera Dori desperta ela destrói a aldeia e aprisiona a alma dos índios no centro da Terra. Para salvar os índios, o xamã Dsopinejé Kulina consulta os seres Tocorimés, ingeri a bebida rami, entra em transe e vai ao centro da Terra combater o inimigo.

A primeira aparição do artista foi representando um ser meio-homem, meio-aranha, que após ingerir o alucinógeno se transformou no arcanjo xamã – o único capaz de restabelecer a paz na aldeia dos kulinas. A expressão do artista foi fantástica, fez uma estreia impressionante.

oooOOOooo oooOOOooo oooOOOooo

Senti falta de ouvir a toada do Caprichoso – Amazônia, Onde o Verde Encontra o Azul e Boi do Povão do Garantido, mas fiquei feliz por ver novamente a interpretação de Pachamama que pra mim foi a toada do festival deste ano.

Quanto a transmissão Teo José e Renata Fan deram show, falar pouco e o essencial é o mais correto nas transmissões televisivas. O corte das câmeras principalmente ontem decepcionou um pouco. O comentarista Milton Cunha continua perfeito e na transmissão da última noite deu uma advertida nos locutores, que se dispersaram em comentários desnecessários durante a apresentação dos tuxuauas (líderes das tribos) do Caprichoso, que nem foram mostrados.

oooOOOooo oooOOOooo oooOOOooo

Acabo aqui minha narrativa das três noites do 44º Festival Folclórico de Parintins. Para mim escrever a respeito do que vi em 15 horas, uma média de 5 horas por noite é uma grande exercício de memorização porque não é fácil guardar tanta informação num curto espaço de tempo, mesmo desfragmentando o HD, a coisa não é fácil... Risos...

Que venha o 45º Festival!