quinta-feira, março 02, 2006

O carnaval mais louco dos últimos tempos

Quem achava que o carnaval carioca tinha caído na mesmice, esse ano caiu do cavalo. A megalópole do samba, que aos olhos do mundo é a Disney do samba e que foi oficialmente batizada como: Cidade do Samba lavou o espírito dos artistas e deu ao carnaval mais uma revolução.
Personalidades como J 30, Rosa Magalhães, Fernando Pamplona, Maria Augusta, Viriato, Renato Lage, Max Lopes, Arlindo Rodrigues, Fernando Pinto e o atual Paulo Barros entre outros grandes carnavalescos foram parte da revolução artística e estética.
O sambódromo foi a revolução organizacional da coisa, que saiu das ruas e ganhou uma arena, onde os egos emergiram em forma de cores, formas e ritmos cadenciados.
Em 2006, estamos diante da revolução industrial do samba e do processo de desfavelização das instituições, que até então, produziam seus trabalhos em galpões da Companhia de Docas e agora tem espaço próprio.
Para quem não curte carnaval paciência! Como diria Durkeim: “a coisa está coisificada.” Em forma e dimensão de evento, com isso: fonte de renda, não dá mais para tirar com a mão: o samba virou nosso mais novo Parque Temático.
E a apuração de ontem, nos mostrou que acabou a hegemonia, a timidez e a essência do: Lá, lá, lá,lá. Quem tiver força e lobby que tire da cartola, ou do cartola seus melhores financiamentos e recursos.
Não sei porque tanto puritanismo, o futebol é assim, quem tem o melhor patrocinador tem o melhor elenco, time de futebol não tem jogadores, e sim casting, como o das agências de modelos.
Beija-flor marcou um novo ciclo nos últimos anos e na hora de chutar a bola na cobrança do pênalti, perdeu o tetra para a Vila que este ano veio sem Martinho da Vila – inquieto e insatisfeito com tanta modernidade no Bouvelard 28.
Mas, de uma coisa Nilópolis não precisa reclamar a Tijuca ficou atrás dela, mais uma vez!!!
Paulo Barros também não precisa reclamar foi campeão no acesso e trouxe de volta para a elite: a Deixa Falar, atual Estácio de Sá.
Os desfiles foram marcados por uma estranha indiferença, todas as escolas vieram grandes, não dava para decidir quem era a pobrezinha da vez. Porém, Imperatriz padeceu na falta de apoio e “Um por todos” não decolou, assim como Tijuca caiu na mesmice dos efeitos de Barros.
Os jurados estavam com sangue nos olhos, nada de desperdiçar a nota máxima, e se posso sacar um 9.9, esse recurso foi muito utilizado! Se bem ou mal!? Não é possível detectar sem ler as famosas justificativas.
Porto da Pedra este ano não padeceu pelo 7,6 do ano passado, mas amargou a 12º colocação, coisa que em 2008, será a última posição na classificação geral. Pois a tradicional brincadeira de deixar a próxima escola desfilar a luz do dia acabou com a política da cronometragem.
E agora com apenas doze escolas, a liga quer acabar de vez com isso, todos serão banhados pela luz de Jaci.
O efeito Cidade do Samba, ainda é muito recente, mas ano que vem teremos os primeiros reflexos e novas revoluções. Entre as mordidas vem a Beija-Flor e a Mangueira, que conseguiu voltar graças a Deus, aos seus desfiles tradicionais. Não há ninguém que desenhe o nordeste com tamanha simpatia e emoção como a verde e rosa.
O melhor de tudo isso foi a feliz diferença de enfoques entre ela e a Mocidade Alegre de São Paulo, as duas poderiam competir juntas e com certeza seria uma briga muito boa.
No grupo de acesso, o bicho vai pegar em 2007! A Rocinha e a Caprichosos engrossarão a fileira das pretendentes a especial, ao lado da São Clemente, União da Ilha e Paraíso do Tuiuti.
Se a idéia da Associação das Escolas de Samba era elevar o nível dos times de base conseguiu. Pois quem for à avenida no sábado de carnaval verá uma nova elite do samba lutando por um lugar ao Sol.
Mocidade não se achou ainda! Ela já fez campanhas sociais, foi barroca e agora moderna e nada. Sinto falta da antiga Mocidade Independente, mas por outro lado Renato Lage também não agradou os jurados e o remake de “De Corpo e Alma na Avenida”, em uma versão microcosmos não rendeu o efeito esperado.
Império Serrano foi um sonho que há muito tempo não acontecia, assim como a Portela que se redimiu de seus pecados originais.
Apertando o botão da máquina do tempo, me lembro do dia em que ouvi Wander Pires cantando pela primeira vez na quadra da Vila, o samba vencedor. E a meu ver não tinha por onde fugir, o cara é bom e o samba interessante.
Rico em detalhes e mostrando uma América rústica e original, a Vila foi uma doce afronta. É como se ouvíssemos Caetano Veloso cantando Soy Loco por Ti América, que na época tinha uma conotação política e hoje, na voz de Ivete Sangalo, apenas como uma trilha sonora de uma personagem insossa.
Voltando a loucura do carnaval deste ano, a Sapucaí não será mais a mesma depois da Cidade do Samba. Rufem os tambores, pois depois do desfile das campeãs: cabeças vão rolar e muita fênix vai renascer com força ainda maior.