Ontem, enquanto passava minha tarde de sábado, numa livraria folheando: "No Caminho da Expedição Langsdorff Mémoria das Águas." Fui surpreendido por uma senhora que lia livros sobre receitas medicinais. Entre as obras, textos a respeito de limões, pimentas e ervas.
A mulher falava num volume característico pra sua idade, o que fez com que eu ao centro e a outra jovem senhora à minha direita simplesmente deixássemos de ler pra dar atenção a sua fala.
Parecia uma dessas pajés amazônicas, de estatura baixa, rosto, mãos e corpo marcado pelo tempo. Mas uma figura! Enquanto nos seduzia com suas palavras cheias de erros na pronúncia, mas quase impossíveis de não serem escutadas. Relatava curas, traços de sua infância em Paraibuna e de sua fé, capaz de promover saúde pra ela e os que a procuram.
Ela e suas histórias me lembravam a pajé Zeneida de Lima (tataraneta de Agotime, a fundadora da Casa das Minas, que fica no Maranhão), que nasceu no Estado do Pará e que encantou o fotográfo e pesquisador Pierre Verger, numa pajelança em pleno Jardim Botânico no Rio de Janeiro.
Sua conversa só não agradou o esposo da mulher à minha direita, que se ajeitava na cadeira, tentando dizer de forma subliminar pra ela: "Se manca porra!!! Vim aqui pra ler."
O engraçado é que as duas senhoras eram Marias, cada uma a seu jeito! Uma simples e popular! Já a outra refinada, com cara e porte de mulher independente, com metas que ultrapassam a busca pela satisfação das expectativas do marido.
Esse refinamento meio que a desconectou das coisas simples da vida. Mas acho que aquela Maria rude, que cortou e atrofiou um dos dedos na roça, enquanto ralava mandioca, deu a ela um brilho diferente no olhar. E uma visão além de uma simples imersão literária numa tarde de sábado.
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