sexta-feira, janeiro 12, 2007

Tudo por um celular - Segunda Parte

"Alô amor! Tô te ligando de um orelhão Tá um barulho, uma confusão Mais eu preciso tanto te falar"
Bruno e Marrone

(*)

Consumidor!
Segundo Capítulo:
A primeira gestação

Logo que a vida voltou ao normal, a mala foi desfeita e os presentes distribuídos. Lá vou eu levar o relógio para ser beijado e voltar a ser um celular de verdade.
Mal sabia que as confusões estariam apenas começando. Verificado as características físicas e a integridade moral do aparelho, eis, que me despeço dele, de onde só fui tirar um mês depois.

Uns quarenta e cinco dias depois...

Um virgem praticamente! Trocaram meu aparelho! Todo plástificado! Feliz da vida retomei a vida.
A única coisa que me intrigava no comportamento daquele aparelho é que ele só dava carga na cozinha. Que estranha relação era essa! Entre ele e a tomada da cozinha? Será que em uma vida passada, eles foram um benjamim e uma tomada? Marido e mulher? Irmãos! Era estranho.

Final da relação...

A relação entre os dois durou apenas até o mês de outubro, quando numa tarde de sábado eu não conseguia mais promover o contato entre o plug e o buraco. Mexia! Mexia! Punha e tirava com jeitinho e nada dele ceder pro plug.
Seus olhos não queriam brilhar mais quando o plug era inserido em sua entrada. O que teria esfriado essa relação?
Telefone bloqueado lá vou eu novamente para a assistência técnica, quatro meses depois, de ter saído dela com um novo celular.

"Senhor o seu celular está funcionando normalmente, mas para resolvermos o problema teremos que ficar com o aparelho."

Mais uma vez sem celular e dessa vez por causa de um carregador, apenas um carregador!

"Senhor ligue daqui a três dias."

Três dias depois...

"Senhor ligue daqui a cinco dias."

Uma semana depois dos cinco dias programados...

"Senhor ligue na sexta-feira!"

No cara a cara!

- Senhor aconteceu uma divergência na nota fiscal no primeiro conserto, então, estamos aguardando um nova nota. E se eu fosse o senhor acionaria a empresa para te dar outro aparelho.
- Pode ficar tranquila! Já acionei o Procon e só passei aqui para ver se alguma coisa tinha acontecido!

Nesse intérim fiquei no aguardo do prazo dado pelo órgão de defensoria do consumidor a despeito da minha causa e de uma solução para a saga: Tudo por um celular!

A primeira saga de 2007: Tudo por um celular!

"Piririn, piririn, piririn Alguém ligou pra mim Piririn, piririn, piririn Alguém ligou pra mim Quem é?"
Atoladinha - Bola de Fogo
(*)
Consumidor!
Primeiro Capítulo: Telefone Celular ou Relógio de Bolso Moderno?
O dia estava ensolarado na capital maranhense, o táxi a pouco havia me deixado na porta do aeroporto com minha mala e meu inseparável antílope (minha bolsa). Depois de alguns dias gozando a vida num dos paraísos do Nordeste o frio do Sudeste me esperava novamente para me dar um abraço de seja bem-vindo!
Naqueles dias do mês de maio fazer o check in era um prazer, nada de filas, nada de gente arremessando coisas nos empregados das companias áreas. Burocracias à parte segui para a sala de espera. De lá! Liguei para casa, meu pai atendeu! Alôoooo (voz grave). Pedi a ele que chamasse minha mãe conversamos rapidamente e avisei que por volta das 20h estaria em Sampa.
O celular havia sido carregado. Porém, misteriosamente suas teclas começaram a pifar. A principio as três de baixo, depois a tecla voltar. Quando me dei por conta tinha em mãos um relógio Nókia 6255, cor prata, display lindo e colorido, relógio com vídeo, fone de ouvido e vários sons para me despertar pela manhã. Seria esse fato, um dos mistérios da Terra da Encantaria?
Uma simpática voz ecoa pela ampla sala do aeroporto, enquanto muitos se aglomeram na porta de acesso a aeronave, outros ainda compram mais algumas garrafas de Jesus: "o sonho cor de rosa", ou potes de geléia de pimenta. Diga-se de passagem ótima para ser degustada com os bolinhos de aipim com carne seca do Bar e Restaurante Antigamente, na rua da Estrela.
Após a estranha divisão em duas filas feita por um dos empregados da compania área. Eis que começa o embarque, tive que desligar meu relógio. Ah! Celular!
"Boa tarde! Aqui quem fala é o comandante .... São 14h30, a temperatura ambiente é de 35º C, por volta das 16h, faremos nosso desembarque em Brasília."
Vôo tranquilo, excelentes paisagens, boa música, lanche quente e alguns flertes. Eis que surge Brasília abaixo de nossos pés. O avião segue para Congonhas! Eu como optei desembargar em Guarulhos ia ter que tomar um chá de cadeira até às 17h40.
Aquilo é que é aeroporto! Teatro! Óculos de Sol que você só vê nos editorias de moda da Vogue, artesanato de todo o país. O paraíso do conforto. Pensei até em candidatar-me a uma vaga de aspone no Planalto Central!
"Senhores passageiros do vôo .... com destino a São Paulo - Guarulhos, avisamos que a aeronave irá se atrasar, devendo chegar por volta das 19h45, com embarque previsto para às 20h."
Pânico!
Isso resume tudo que senti naquele momento! Viajando sozinho para um lugar que nunca havia estado e agora com um abacaxi para resolver. Eu, meu antílope e agora acompanhado do Mário Queiroz (meu agasalho favorito). Fomos os três até o guichê da compania tentar reverter a situação a nosso favor! Pois, às 22h saía o último ônibus da PM para São José dos Campos.
Uma moça simpática ostentando um coque imponente e uma maquiagem que dava seta quando ela piscava tentava resolver minha situação e me transferir de vôo. Enquanto isso, um latino com voz áspera pisava no meu calcanhar e me irritava profundamente, proferindo algumas palavras:
"Yo tengo que embarcar pra Miami, às Veinte e três oras"
Com meu olhar simpático e amistoso li a alma daquele homem e volte-me para a atendente que com um sorriso na voz me disse:
"Senhor sua mala será trocada na pista, aqui está seu novo bilhete pode se encaminhar para o embarque."
Muito agradecido pela eficiência da jovem fui eu e meu dois acompanhantes para o embarque. O avião parecia um ônibus, ou metrô lotado, horário de rush, em plena segunda-feira, gente excitada, gente suada, gente alegre, gente cansada e eu curtindo tudo feliz da vida.
Mais um lance quente! Algumas horas depois, os prédios anunciam que estou no paraíso do cimento!
Já naqueles dias Congonhas estava tão lotado, que o desembarque foi feito na pista mesmo e de circular chegamos ao saguão.
Todos em pé assistiam um estranho desfile de malas, pretas, azuis, grandes, enormes, dantescas e a minha que eu achei um desaforo!!! Pois, levei roupa para uma semana e ainda poderia ter trazido mais uns 12 quilos no retorno, sem exceder o limite de peso.
Já que nada acontecia fui ao banheiro, minutos depois voltei ao local! Cadê as pessoas? Cadê minha mala?
Uma onda de tensão tomou meus pensamentos. Haveria possibilidade de em menos de 180 segundos várias pessoas terem pego suas malas e ido embora?
A resposta veio logo em seguida, como num imã, o fato de eu ter parado ali atraiu todo mundo, como num boom! Dei muita risada da situação, pois todos haviam saído para reclamar a falta de suas bagagens.
Acompanhado agora por um carrinho, saímos eu, antílope e Mário Queiroz, em direção ao ônibus que faz o transporte até Guarulhos, pois somente de lá saí o ônibus para cá.
E que pinote!
- Moço! De onde saí o ônibus para Guarulhos?
- E lá na frente! Você precisa correr!
- Olhei para o relógio que dispencava do teto. Eram 20h50!
- O ônibus saí às 21h, completou o informante!
Saímos os quatro atropelando até sombra! Quando cheguei fui logo perguntando ao motorista!
- Qual a previsão de chegada a Guarulhos?
- Ah! Lá pelas 21h40!
Pensei, mas nem tinha escolha! Vamos embora! No trajeto feito pelo centro da cidade uma recompensa! Não tinha trânsito. Liguei novamente do relógio para a casa! Ah! Celular, sempre me esqueço desse detalhe!
Rápido diálogo, pois a conta seria deliciosa no fim do mês!
Enfim, Guarulhos! Como aquele lugar estava lindo às 21h45, daquela segunda-feira!
Passagem, Passagem! Preciso de um bilhete urgente!
Ufa! Bilhete em mãos!
Quanta correria! Olhei para minha mala e fiquei pensado em tudo que tinha acontecido, durante o tempo que me sobrou.
Até que uma senhora interrompeu sem pedir licença o meu momento reflexivo!
- O senhor sabe de onde saí o ônibus para São José?
- Olha! Segundo a informação que recebi é daqui mesmo!
- Ela continuou! Nossa! Pensei que não fosse dar tempo meu vôo de Brasília para cá atrasou e somente saiu às 20h.
Aquelas palavras pareciam uma arma encostando na minha cabeça. Eu havia corrido tanto pensando que não daria tempo e a mulher chegou quase na mesma hora que eu!!! Que bosta concluí. Mas, agora estava feito e não tinha como saber senão experimentasse arriscar.
Finalmente o ônibus, foram momentos de prazer! Interrompidos pelo motorista.
"Quem não for descer na rodoviária, não pode deixar as malas no bagageiro."
Esse era meu caso! Fiquei na minha e aproveitei os últimos momentos de vida do meu relógio para ouvir qualquer rádio que sintonizasse.
Ele estava morrendo, desde a noite de domingo não conseguia mais dar carga naquilo que agora tinha virado um relógio prateado com display colorido.
No retão de Jacareí calculei a hora de fazer a ligação salvadora, pois a coragem de caminhar até em casa tinha ficado no Maranhão.
- Daqui a 3.06 saía de casa que estarei chegando!
- Câmbio desligo!
- QAP, na escuta!
Casa! Que saudades dela! De tomar um banho quente! Todos os sonhos foram diluindo junto com a espuma do sabonete. Amanhã tenho que trabalhar cedo!
O relógio deu seus últimos suspiros! Começaria aí a saga: Tudo por um telefone!!!