União e amizade dos sambistas no adeus para Mestre Louro
O carnaval mostrou sua união e amizade. Na tarde desta sexta-feira, quatrocentas pessoas compareceram ao enterro de Mestre Louro, no cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio. O velório recebeu mais de 500 visitas. Todos os mestres de bateria do Grupo Especial estiveram presentes, além de mestres do Grupo de Acesso, casais de mestre-sala e porta-bandeira, intérpretes e sambistas amigos de Louro. A Liesa foi representada por Américo Siqueira Filho.
Mestre Louro faleceu às 5h30 da manhã desta sexta-feira, no Hospital da Ordem Terceira da Penitência, na Tijuca. Ele tinha um câncer no estômago e estava no CTI. Além de comandar por mais de 30 anos a bateria do Salgueiro, sua escola de coração, Louro foi mestre na Caprichosos de Pilares e na Porto da Pedra. Ele era casado, tinha dois filhos e três netos.
Os sambistas Andrezinho, do Molejo, e Arlindo Cruz estiveram presentes no enterro. Solange Gomes, ex-rainha de bateria da Porto da Pedra compareceu. Luma de Oliveira que foi rainha de bateria da Caprichosos de Pilares, quando Mestre Louro estava na escola, mandou uma mensagem para família do sambista.
O irmão de Louro, o sambista Almir Guineto, estava em São Paulo, quando soube da morte do irmão. Devido ao mau tempo no Rio, ele teve problemas com o avião, mas conseguir chegar na hora do velório para se despedir de Louro.
- Ele era muito teimoso. Há 25 anos atrás, ele sentiu um problema no estômago, mas acho que era dor de barriga. Nunca quis ir ao médico. Ele levava todo mundo no papo. Depois tinha crises e no desfile desse ano (2008) passou mal. Eu estava no sertão de Recife fazendo show e fiquei sabendo pela televisão. Liguei para ele e escutei: "Eu tinha que desfilar. Fui no posto médico da Sapucaí, enganei o médico e voltei para Avenida" - revelou Almir Guineto sobre a última passagem de Mestre Louro pela Marquês de Sapucaí, quando comandou a bateria da Porto da Pedra.
Almir Guineto contou que em 1980 fez uma música especialmente para o irmão, que não gostava muito da obra.
- O nome é "Gari padrão". O Louro foi gari da Comlurb e eu brincava que ele varria o chão da Praça Mauá até Tijuca. Ele reclamava, mas sabia que a música era boa. Só tenho boas lembranças do meu irmão. Aprendemos muito juntos e com o nosso pai. O Louro tocava muito. O samba perdeu um grande bamba - afirmou Almir Guineto.
Salgueiro e Porto da Pedra preparam homenagens para Mestre Louro
Mestre Marcão, atual comandante da bateria do Salgueiro, foi o responsável pelo toque do surdo durante o cortejo com o caixão de Mestre Louro da capela até o sepultamento no cemitério. O jovem Thiago Diogo, de apenas 26 anos, novo mestre de bateria da Porto da Pedra, indicação de Louro, carregou o caixão com ajuda de amigos de Louro. Para homenagear Louro, Mestre Marcão, do Salgueiro, avisou que a sala da bateria da escola, que fica na quadra, receberá o nome de "Espaço Mestre Louro" e terá todos os troféus e algumas fotos do sambista. A inauguração será no mês de maio. Thiago Diogo também revelou que a bateria da Porto da Pedra fará uma homenagem para Louro no desfile do Carnaval 2009. Além disso, a escola deve colocar uma ala perto da bateria e que contará com a presença de amigos de Mestre Louro.
Confira depoimentos sobre Mestre Louro:
- Mestre Paulinho (Beija-Flor): Foram quase 40 anos de convivência. Somos da velha-guarda. Ele foi descansar. Fica saudade, perdemos ele para Deus. Esse encontro aqui no velório prova que o samba quando quer une. O Louro é um ícone. Valeu a pena ser amigo dele.
- Mestre Odilon (Grande Rio): O Louro ensinou muita gente. Ele deu aula de samba, sem ser ser professor. Tinha postura. Não tirava satisfação com o ritmista. Trabalhamos juntos no Salgueiro, no ano de 1992. Aprendi muito com sua tranquilidade.
- Mestre Mug (Vila Isabel): Louro era um bom amigo. Parceiro de jornadas e gravação do CD do Grupo Especial. Vou sentir falta desse amigo. Vivemos sempre com zuação. Ele vai fazer falta e deixa saudade.
- Guilherme Nóbrega (Foi diretor de carnaval do Salgueiro): O Louro explodia nossos corações. É uma amizade de 35 anos. Lembro quando ele me chamou na sala da bateria e me ensinou caminhar dentro do samba. Isso foi há 25 anos. Era uma pessoa exemplo de honestidade e dignidade. Formou a bateria toda do Salgueiro, que hoje desfila na Sapucaí.
- Mestre Nilo Sérgio (Portela): Nasci e cresci vendo o Louro na Avenida. Ele sempre tirou onda na pista e ganhou vários Estandartes de Ouro. O samba perdeu um professor. A vida dele foi marcada pelo sucesso. Afinação era sua principal característica. Ele sempre passou credibilidade. Nas gravações do CD, o Louro chegava e conversava comigo. É complicado ver o samba sem o Louro.
- Presidente Uberlan Oliveira (Porto da Pedra): Ele vai deixar muita saudade. Era um ser humano maravilhoso e profisssional. Colocou a bateria da Porto da Pedra do que jeito que quis e partiu para descansar com Deus.
- Mestre Jorjão (Boi da Ilha): Era um irmão. Chamava de Doutor Louro. Ele ajudou e orientou muitos mestres que estão aqui no velório. É uma perda sem volta. Difícil colocar alguém no lugar.
- Mestre Taranta (Mangueira): O Louro deixa saudade. Amizade de anos. Era inteligente e sempre fez bons trabalhos. Uma pessoa de disciplina e alegre.
- Mestre Átila (Império Serrano): É uma lacuna enorme para bateria e o carnaval. Ele me ajudou muito no estúdio nas gravações do CD. Quando cheguei pela primeira vez, recebi sua orientação. Assumi o surdo de 3ª e toquei durante toda madrugada. Poucos falam no ouvido como ele. Não posso esquecer jamais. Fui um dos últimos mestres que fez uma visita para ele no hospital. Foi difícil.
- Mestre Thiago Diogo (novo comandante da bateria da Porto da Pedra): Sei que minha responsabilidade aumenta ainda mais. Onde ele estiver, eu tenho certeza que receberei sua força e luz. O trabalho ele me ensinou. Todos os dias estávamos juntos. Ele dizia que eu era o braço direito dele. Pensávamos juntos. Como ele era tradicional, eu tinha que conversar e sugerir paradinhas para bateria. Ele atendia, porque sabia que o mercado estava pedindo. O samba era a vida dele.
Texto de Alberto João