quarta-feira, julho 02, 2008

O mais novo "Garanchoso"





Fonte: www.band.com.br/parintins

Depois de acompanhar [pela televisão] pela primeira vez as três noites do Festival Folclórico de Parintins, cheguei à conclusão de que sou um dos mais novos torcedores “Garanchoso” do país. O evento mostrou a riqueza cultural produzida pelos moradores da Ilha de Tupinambarana, localizada em Parintins, no estado do Amazonas.

O espetáculo é simplesmente interessante em vários aspectos, a começar pela forma com a história é contada, a divisão dos atos e a superprodução para receber as principais estrelas da festa e como a celebração é para o Boi, ele é o personagem cênico mais aguardado e festejado.

FESTIVAL - O primeiro dia da apresentação dos Bois Garantido (vermelho e branco) e Caprichoso (azul e branco) foi marcado por surpresas e metamorfoses plásticas de efeito arrebatador. Ao mesmo tempo em que me encantava com esse novo tipo de sonoridade, que me lembrou em muito o boi do Maranhão, ia me deixando seduzir pela beleza das roupas, versatilidade da montagem dos cenários e a complexidade do enredo, que é recheado do misticismo originado pela mistura do indígena com europeu e o africano.

A musicalidade é um capítulo a parte, pois o som produzido não é tão pesado como o “tum” “tum” “tum” das escolas de samba, o que facilita acompanhar o ritmo que é muito bem marcado pela galera nas arquibancadas do bumbódromo.

Cada apresentação é limitada ao tempo máximo de 2 horas e 30 minutos. E, nesse ínterim, adentram a arena o Boi, a Rainha do Folclore, a Sinhazinha, a Cunhãporanga e o Pajé. Além, do Pai Francisco, da Mãe Catirina, do Amo do Boi e do mestre de cerimônia que são os primeiros a entrar em cena.

A segunda noite foi pontuada pelo misticismo e por alegorias ainda maiores. Os seres mitológicos da floresta invadiram a arena com suas cores vibrantes e efeitos de fazer cair o queixo. O melhor momento foi quando o cantor de toadas do Boi Garantido cantou “Vermelho” que foi gravada e divulgada pela cantora paraense Fafá de Belém.

O Caprichoso iniciou as apresentações da última noite e reafirmou sua imagem de Boi Luxuoso, enquanto o contrário é o Boi do Povão. Entre as lendas apresentadas, a da Mandioca, que me lembrou os trabalhos escolares clássicos do mês de agosto, mês do folclore.

COMPREENSÃO – A princípio achei que seria mais difícil entender o desenvolvimento cênico do festival, mas os anos de carnaval me deram algum “feeling” pra não ficar viajando tanto. Como o boi foi importado do Nordeste do país, a história central é a mesma, o que muda é o enredo, que é tão fantasioso e lúdico como o próprio carnaval.

COBERTURA – Sobrou boa vontade, mas faltou técnica na cobertura e principalmente na apresentação. Embora o Datena tenha se cercado de bons comentaristas (um de cada boi e Milton Cunha nos comentários artísticos) ele acabou excedendo na euforia em muitos momentos, o que tornou sua presença cansativa e maçante. Ele é bem intencionado, mas parece que esquece que o espetáculo é audiovisual por si só. O espectador precisa apenas da informação necessária e não de uma chuva de adjetivações.

INFLUÊNCIAS – É muito positiva a troca que vem acontecendo entre o Boi do Amazonas e o carnaval do Sudeste. Digo Sudeste, devido ao fato do Rio de Janeiro e de São Paulo ter em seus efetivos artistas parintinenses, o que tem feito com que as alegorias do Sul ganhem em tamanho, mas principalmente em movimentos mecânicos que são viabilizados por meio da instalação de cabos de aço.

COMPARAÇÃO – É tolice comparar os espetáculos, embora seja quase irresistível traçar tais comparações. Durante a transmissão muitas similaridades e pontos positivos de um sobre o foram apontadas. Porém, penso que o mais sensato a fazer é respeitar as características regionais de um e observar os efeitos midiáticos e internacionais do outro.

FUTURO – O contrato para transmissão em canal aberto é até 2.010. Nas sonoras gravadas nos três dias de festival, os políticos da região já apontaram os planos futuros para o evento, que atualmente comporta 35 mil pessoas nas arquibancadas (0800). Com essa divulgação a festa promete extrapolar as barreiras da mata e ganhar ainda mais o Brasil e o mundo.

MARKETING – Para atender aos consumidores locais e divulgar suas marcas, as empresas não pouparam mimos. Todos os patrocinadores modificaram as cores de suas logomarcas para atender os requisitos de separar muito bem, o azul e branco do vermelho e branco.

PASSADO – No carnaval de 1997, a X-9 Paulistana fez um enredo sobre a Amazônia e citou o Garantido e o Caprichoso. No ano seguinte, os Acadêmicos do Salgueiro lançaram um compact disc independente com o enredo sobre o Festival de Parintins. O samba de enredo foi pouco divulgado, pois não saiu com os demais, mas na avenida a escola promoveu uma grande transformação visual ao absorver para si vários elementos da cultura amazonense. Entre os destaques, a escultura de um Mapinguari gigante feito do mesmo material utilizado nas cabanas dos caboclos e índios.

INEDITISMO - Quando se diz que o Brasil não conhece o Brasil, o que me resta é concordar em gênero, número e grau. Pois, a transmissão em rede nacional do evento levou 43 anos para acontecer, sendo que o boi é celebrado em Parintins há 95 anos. Mas, antes tarde do que nunca.

Que venha o próximo, pois como novo “Garanchoso” eu já reservei o último final de semana de junho para acompanhar as toadas, as pajelanças e evoluções dos bois parintinenses e agora brasileiros.

Texto escrito e publicado originalmente no blog Menta Rosa

Enredo do meu samba...


A sinopse do enredo sobre [Tambor] dos Acadêmicos do Salgueiro para o próximo carnaval:

Enredo: "Tambor"
Da Natureza.

Da Pré-história.

De árvores, troncos e peles.

Que vibra, comunica.

Que pulsa.

Dá ritmo à vida.

Tocado, dobrado, sentido.
Ancestral, ritual.


Dos deuses.

Tribal, africano.

De raiz, da raça, da cor.
De culturas.


De povos.

Do Oriente, do Ocidente.

Da arte e do vigor.

De História.

De glórias e vitórias.

De crenças e mitos.

De celebrações.
Místico.


Sagrado.

De cultos e religiões.

De fé, de festa.

Que cura a alma e alegra o corpo.
Folclórico.


De Caboclinho, Ciranda e Bois.

De Crioula.

De Ijexá.

Da coroação.

Do Maracatu.

Da Marujada, Congada, Carimbó.

Do Maculelê, Jongo e Caxambu.

Do Reisado, do Forró, do Xaxado.

De Roda. Do Partido. Do Quintal
Moderno, contemporâneo.


Da inclusão.

De lata.

Olodum, Afroreggae, Timbalada.
Do Carnaval, das escolas, das baterias.


Repiques, pandeiros e caixas.

Taróis, tamborins, surdos de marcação.

De magia.

De samba.

Furioso.

Dos Mestres.

Do Mestre.

Da Academia.

Do Mundo.

Da Vida.
Do Coração.
Tambor.


Renato Lage e Diretoria Cultural